sábado, 29 de dezembro de 2007

O que é ser homem e o que é ser mulher na sociedade contemporânea.

Tema da redação da segunda fase da UFBA 2008.

Não se faz mais mulheres como antigamente. Elas eram educadas, dóceis, cordiais, um tanto serviz, mas de uma doçura irresistível. Hoje vão para as ruas, trabalham, dividem contas, competem de igual para igual com o gênero masculino. Esta é a mulher formada por séculos de história.De donas de casa e esposa/mãe dedicada à trabalhadora assalariada e independente. Numa sociedade sempre machista, a mulher alcança níveis sociais jamais imaginados por homens e mulheres, sim mulheres. Queimadas nas fogueiras da inquisição acusadas de bruxaria, condenadas por traição, deserdadas por desonra, mulheres a frente do seu tempo que pagaram por desafiar os padrões morais de suas épocas.Veio o progresso, revoluções industriais, elas ganham o direito ao trabalho e mais uma vez sua, suposta, fragilidade é colocada a prova, se rendendo a condições escravocratas de trabalho e sem direitos a reivindicações. As que ousaram foram queimadas vivas em meio a uma greve. Hoje existem personagens infantis que incentivam a independência feminina, que o diga Maurício de Souza, criador da brigona e irreverente Mônica, e a lista se estende.Era mais fácil ser homem quando, outrora, a sociedade considerada patriarcal correspondia ao título. Porém, apesar de ainda valer a regra em casos irrestritos, essa realidade se esvai, assim como as estórias de ninar. A fragilidade, antes aferidas a elas, agora choca-se na face masculina que, além de tê-las como igual, não resistem ao charme e ousadia natural de uma mulher.

Alexandre Rodrigues

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Uma luz na escuridão

“Nestas noites das noites da rua, eu canto a autora...
Nestas noites escuras sem lua, eu canto a aurora...
Um sorriso de dor, a ternura... Aurora da Rua...”

Primeiro jornal de rua escrito e comercializado por moradores de rua, o Aurora da Rua, lançado em 24 de março do ano corrente chega a seu quarto fascículo e a 23 estados do país com um jeito singular de se fazer um jornal.
Projeto do irmão Henrique, como prefere ser chamado, francês residente no Brasil há 20 anos, é realizado na comunidade da Trindade, localizada no bairro da Água de meninos, na cidade baixa de Salvador, composta por aproximadamente 40 pessoas. O Aurora da Rua tem o objetivo não de fazer caridade, mas de fornecer oportunidade. Quer falar da rua através do ponto de vista de quem mora nela, apresentar as belezas e os horrores pela visão de quem vive nessa situação.
Todo o conteúdo é produzido por moradores de rua em oficinas orientadas e assessoradas por uma equipe de cinco jornalistas e quatro estudantes de jornalismo que recolhem todo material e os editam para serem vinculados no jornal. Depois de pronto, o jornal é passado aos vendedores pelo valor de R$0.25 (vinte e cinto centavos de real) para ser revendido por R$1.00 (um real), dando-os um lucro de 75% de cada exemplar vendido, diferente dos jornais convencionais nos quais o lucro é de R$0.05 (cinco centavos de real) por exemplar e ainda é exigida uma meta a ser cumprida.
Impresso bimestralmente, em papel de 65 gramas, colorido, com oito páginas e tiragem de 10.000 exemplares, tem elevado preço de produção que não é sustentado pela venda dos exemplares, já que todo o lucro é de quem os vende. Não possuindo anunciantes, o jornal tem parte de seu sustento derivado de assinaturas particulares que, hoje alcançam o numero de 200 assinantes espalhados por 23 estados no território brasileiro. Além disso, têm-se, ainda, assinaturas empresarias responsáveis pela maior parte da verba que financia o jornal que, em seu projeto de venda, cobram um valor maior do que o preço cobrado para as vendas diretas e para as assinaturas particulares. “Informamos às empresas que pagando um pouco mais pelo mesmo material eles estão garantindo que os vendedores continuem comprando o jornal com preço muito baixo sem que a qualidade seja perdia”, explica Henrique.
Todos os vendedores do jornal estão ou já passaram por condições de rua e, para venderem o jornal, passam por um treinamento específico. Ainda, recebem auxilio psicológico e participam de encontros com empresários, psicólogos e pequenas reuniões entre eles. O que se busca com toda essa preparação é modificar o pensamento dos vendedores mostrando que eles deixam de exercer uma relação de pedinte e caridoso, para exercer uma relação cliente e vendedor. Para que ainda seja mais clara essa relação e até mesmo a identificação dos vendedores do Aurora, eles recebem um material de uniformização composto de colete azul com marca e vendedor escrito no verso, boné com a marca do jornal, crachá de identificação com foto, nome e a marca do "Aurora da Rua” e bolsa azul com a marca "Aurora da Rua" para carregar os jornais.
Cada um desses vendedores monta a sua própria rotina de trabalho, estabelecendo onde e quanto tempo passam vendendo o jornal. Além disso, não há desperdício, pois os exemplares de uma edição anterior à lançada podem ser trocados por exemplares da nova edição na sede do jornal sem custo adicional. O interesse do projeto é fornecer oportunidade de trabalho aos que precisam, reinserindo-os na sociedade.
“O jornal é uma passagem, fornecemos oportunidade a essas pessoas saírem das condições de rua na qual vivem e possam voltar a ter uma vida” afirma Henrique.


Alexandre Rodrigues

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Sim, eu falo!


Crianças e jovens portadores de deficiência auditiva estão sendo preparados para o convívio social, através da educação não-formal da Federação de Bandeirantes do Brasil, em parceira com o Centro de Integração Escola e Lazer – CIEL. Projeto da Presidente do movimento bandeirante na Bahia, Letícia Dantas mostra que pessoas surdas são capazes de viver como pessoas sem nenhum comprometimento.
Criado em 1909 na Inglaterra por Robert Baden-Powell, ou BP como ficou conhecido, o Movimento Bandeirante começa intitulado de Girls Guides (Meninas Guias), como o próprio nome já diz, apenas para meninas. E assim foi, até 1960, quando no Brasil as portas para o bandeirantismo são abertas para meninos e rapazes. No entanto, a data da chegada ao Brasil é de 1919, quando através de uma carta enviada por BP propondo a fundação do movimento no país, e adotada pela Sra. Jerônyma Mesquita, conhecida por trabalhos educacionais e sociais, tendo em sua primeira turma 11 meninas que no dia 13 de agosto de 1919 realizaram a primeira cerimônia de promessa.
Organização civil de âmbito nacional, sem fins lucrativos, de educação não-formal e voltada para o público infanto-juvenil, adota a missão de preparar cidadãos através de experiências de convívio em grupo, de respeito ao próximo e do cultivo de valores para combater o individualismo e a passividade que se fazia sentir já no início do século XX, Baden-Powell cria a Promessa Bandeirante e o Código, caracterizado como conjunto de normas e atitudes fundamentais à vivência do Bandeirantismo.
“Prometo, sob minha palavra de honra, que farei o melhor para:
Ser leal a Deus e a minha pátria
Ajudar o próximo em todas as ocasiões e
Obedecer ao Código bandeirante”.
Tratando de método educativo, o bandeirantismo possui oito pilares interdependentes: vivência do Código e da Promessa Bandeirantes, convivência e trabalho em equipe, aprender fazendo, auto-progressão, vida ao ar livre, expressão e simbolismo, convivência entre jovens e adultos e serviço na comunidade.
Hoje, a Federação de Bandeirantes do Brasil (FBB), 88 anos após sua implantação no país, faz-se presente em 15 estados, com cerca de 1.000 voluntários que trabalham com mais de 7.000 crianças e jovens participantes do movimento.
Foi pensando na educação moral desses jovens que participam do movimento, e com a pretensão de ter essa proposta estendida pelos grupos espalhados pelo Brasil que a Assistente Social e Presidente da FBB da Bahia, Letícia Dantas, eleita pela primeira vez aos 23 anos, cria o projeto Bandeirantismo na Diversidade, visando à inclusão de jovens portadores de alguma necessidade especial. Bandeirante desde os 13 anos de idade, Letícia deparou-se com a perda auditiva de sua filha caçula, que com menos de dois anos foi vítima de uma infecção urinária, que ganhou maiores proporções levando a criança à UTI em estado grave. Para que a situação da menina fosse estabilizada, os médicos aumentaram consideravelmente as doses constantes de medicamentos, o que a salvou. Porém, todo aquele bombardeio de remédios causou a surdez na criança. “Por um lado agradeço a Deus, por ter deixado a surdez, mas ter deixado ela viva”, emociona-se Letícia.
Depois de enfrentar todas as dificuldades para conseguir tratamento específico e da busca por fazer com que sua filha tivesse uma vida normal e voltasse a ser oralizada, Letícia, após muita luta, ganha fôlego para levar essa história como exemplo para uma proposta ainda maior. Bandeirante de coração, retorna à FBB para reerguer o movimento, que nessa época estava quase se findando na Bahia, e começa uma luta em prol dos que eram deixados à margem da sociedade. Mesmo com sua proposta inovadora e destemida, o receio de abandonar tudo que construíra até então ainda a fazia resistir, quando inesperado aconteceu: a empresa na qual Letícia trabalhava entra em concordata e tem o quadro de funcionários reduzido a um quarto do total. Sem emprego, ela começa a viabilizar o seu sonho, e em 1994 funda o CIEL – Centro de integração de Escola e Lazer, preparando professores e funcionários para lidar de forma igualitária entre os estudantes do centro. “A partir daí, sempre com a proposta do trabalho de inclusão, com psicólogos, fonoaudiólogos, professores, eu como assistente social, sempre com essa mesma estrutura, interligando a terapia da área pedagógica e terapêutica”, conta Letícia. Hoje, Vivian Caroline se comunica através de leitura labial e linguagem de sinais, além de falar. Faz faculdade de educação física, trabalha no CIEL e faz parte do grupo bandeirante.
Após criar um espaço físico voltado para o público surdo, e atendendo, também, crianças e jovens portadores de alguma necessidade especial, pudessem viver a inclusão, Letícia inicia mais uma trajetória na briga contra a exclusão. Em 2004, começa a organizar o projeto Bandeirantismo na Diversidade, que só seria aprovado em 2006. Com o objetivo de preparar lideranças para levar a missão do Movimento Bandeirante às crianças e jovens com deficiência auditiva, o projeto oferece para os bandeirantes e para a comunidade acesso à realidade bandeirante e o convívio com pessoas surdas. O programa é desenvolvido através do método Bandeirante, que propõe um aprendizado com a combinação de atividades diversificadas, a partir dos interesses comuns. Buscando aplicar este conceito, cria-se em paralelo o projeto de arte e cultura, aberto para os jovens envolvidos e para a comunidade o direito ao contato com essas duas vertentes. Assim, oficinas de LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, dança e judô são criadas para atender a proposta. Além das atividades o grupo bandeirante baiano tem um coral de LIBRAS regido pela coordenadora do CIEL, Cátia Fernanda.
. A maior proposta do programa é acabar com o conceito pré-estabelecido de que surdo também é mudo. Os portadores da deficiência não desenvolvem a habilidade da fala por não terem recebido nenhuma informação sonora. No CIEL, crianças de qualquer idade são estimuladas a torna-se oralizadas por meio de sensações como vibrações faciais e mesmo através da leitura labial. “À grande problemática vai da crença de que só tem capacidade de emitir o som quem recebe o som. Como não têm essa recepção sonora, porque possuem um bloqueio auditivo criou-se o estigma de que não podem falar. A partir daí trabalhou-se sempre a questão de que todo surdo é mudo, não o estimulando a expressão oral”, explica Letícia e ainda completa: “É provado cientificamente, que se as pessoas surdas forem estimuladas, vão sentir a vibração que existe na fala de outro indivíduo. Trabalhando com todas essas energias e possibilidades que as vibrações da região facial, bem como a vibração do chão, podem proporcionar, pelo tato, o estímulo para emitir e/ou reproduzir o mesmo som, independente de estar diretamente recebendo-o”.
Diferente de entidades que utilizando a proposta de inclusão terminam segregando os portadores de algum tipo de deficiência física ou mental, o CIEL em parceria com a FBB, acredita no “aprender a fazer fazendo” e por isso prepara os jovens para a convivência em sociedade incluindo-o nela. “Meu sonho é que as políticas públicas funcionassem, fossem levadas mais a sério e que a inclusão fosse mais do que reservar vagas em faculdades e de empregos para esses portadores de necessidades especiais, mas que eles possam ser preparados para competir e brigar pelo que eles são capazes”.



Alexandre Rodrigues

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

AXÉ: Arte multiplicando Educação

Da rua para o palco, do palco para a vida. Há 17 anos o projeto AXÉ vem resgatando crianças do submundo das drogas e da prostituição, trazendo-as de volta ao convívio social por intermédio da arteducação. Durante esse tempo já foram assistidas pelo projeto mais de 13.000 crianças e adolescentes.
Fundado em 1990, pelo florentino Cesare de Florio La Rocca, educador e advogado, nasce em Salvador um projeto que já vinha sendo pensado e estruturado cinco anos antes, o Projeto AXÉ. Incentivado pela organização italiana não-governamental de cooperação internacional, Terra Nuova, e pelo Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua e com clara atuação política e pedagógica, instala-se com o objetivo de resgatar crianças e adolescentes que vivem nas ruas, ou filhos da exclusão, como os denomina Cesare, dando-lhes educação de qualidade.
O projeto, que atende hoje aproximadamente 1.500 crianças e adolescentes, começa nas ruas, nas chamadas Escola a Céu aberto, onde educadores instruídos fazem um trabalho de conscientização e estímulo para seduzi-las. Segundo Caubi Nova, professor de História que trabalha como Assessor e Educador Popular do AXÉ, “o intuito é fazer com que essas crianças queiram vir para o AXÉ, não que sejam trazidas, mas que venham por elas mesmas”, nomeando esta etapa de Educação de Rua, que atende crianças de 4 a 17 anos. Posterior a essa conquista, os educadores fazem a primeira de muitas e constantes visitas de acompanhamento às famílias dos menores. “Toda criança que está na rua tem família [...] aquelas crianças que estão ali têm uma história, elas são resultado da estrutura de uma sociedade perversa”, complementa Caubi. Incentivando, sempre, a formação do pensamento individual e subjetivo de cada criança enquanto ser pensante, o AXÉ não descarta a bagagem de conhecimento e de cultura das que chegam a ele, despertando assim, pequenos professores.
Incluídas efetivamente no projeto, essas crianças são dividas em grupos de acordo com suas necessidades e idade. Crianças entre 4 e 11 anos são encaminhadas para o Canteiro dos Desejos, espaço pedagógico que trabalha o lúdico, o imaginário e a cultura infantil, tentando viabilizar a contemplação das diversas áreas do conhecimento. Jovens com idade superior a 11 anos são encaminhados a uma das Unidades Educacionais do Pelourinho, Unidade de Dança e Capoeira e Unidades de Profissionalização, que atendem jovens de 12 a 18 anos, para a qual o projeto disponibiliza oficinas e companhias. Dentre elas está a Usina da Dança, que engloba a Escola de Dança Gicá e a Cia. Jovem de Dança, e trabalha com uma ampla visão cultural levando em consideração as manifestações expressivas das vidas e experiências vivenciadas pelas crianças. Destacando a cultura local e as manifestações étnicas universais, preocupa-se com a coerência dos seus conceitos éticos e estéticos e não apenas com a performance técnica interpretativa. Da mesma forma atua a oficina de Teatro, em parceira com o Teatro XVIII, no qual se apresentam espetáculos do projeto, e a oficina de Música, denominada Casa dos Sons (Canto Coral e Individual, Capoeira, Instrumentos Musicais e BANDAXÉ), que conta com o apoio indireto de artistas baianos como Caetano Veloso e Gilberto Gil, que cedem espaços em seus shows para apresentação do grupo percursivo do AXÉ. Como pré-requisito, é obrigatório fazer parte da oficina de capoeira pelo tempo mínimo de um ano, como incentivo ao conhecimento e contato da cultura popular local.
Jovens com idade a partir de 16 e limite de 24 anos são incluídos no campo de trabalho em uma das Empresas Educativas (Modaxé, Stampaxé, Casaxé e Opaxé), onde vivenciarão desde a formação e construção de um pensamento e visão mercadológica do mundo atual, até a criação e confecção de materiais de consumo básico, como roupas. Essas empresas visam preparar o jovem para o convívio no mercado de trabalho, além da educação para a cidadania e a construção de seus próprios projetos de vida pessoal e social, nutrindo sua consciência de direitos e deveres. Para esses jovens é disponibilizada uma bolsa auxílio de R$185,00 (cento e oitenta e cinco reais) como ajuda de custo, além de cachês dos que atuam em alguma das Cia. em apresentações municipais, nacionais e internacionais. O AXÉ hoje, também se consagra por ser uma ONG a importar talentos para fora do país, como o jovem Diego atual bailarino do Ballet Bolshoi.
Tendo como um dos maiores apoiadores informais a Universidade Federal da Bahia e o grupo JACA – Juventude Ativista de Cajazeiras – também conta com o apoio das Secretarias da Cultura e da Educação do Governo do Estado da Bahia, através de convênios para liberação de verba para o projeto. Além dessas organizações públicas, empresas privadas como a Coelba, Jacques Janine, Rede Globo de Produção, dentre outros, dividem o espaço com apoiadores e parceiros internacionais, como a Associazione Axé Itália, Embaixada da Itália no Brasil, Governo da Itália através do Ministério das Relações Exteriores, e muitos outros.
Fazendo funcionar, assim, a teoria de que a partir da descoberta que o diálogo entre a arte e a educação e os conflitos provenientes dessa fusão, produzam estímulos cognitivos e sensoriais que são fundamentais para o entendimento da vida, que desloca os jovens do AXÉ de um patamar restrito e sem perspectivas, próprio da sua condição social, para uma percepção de que há na vida, um tempo e um espaço infinitos a serem conquistados.

Alexandre Rodrigues

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Imprensa brasileira: 200 anos de estórias.

História e conceito

Antes que seja elucidado qualquer tema a respeito da Imprensa e sua história no Brasil, faz-se necessário definir o que se caracteriza como tal. Recorrendo ao dicionário, existem significados distintos para um mesmo item, o que não se torna tão surpreendente na língua portuguesa.
Em um primeiro conceito para imprensa, encontramos a forma primitiva e concreta da palavra, que se caracteriza por “máquina que se imprimi ou estampa; arte da tipografia”. Se considerarmos esse o termo real de imprensa, temos algumas convergências. Datas nos levam a crer que a imprensa no Brasil chega juntamente com a família real portuguesa, tendo como príncipe regente D. João em 1808, mais especificamente a 13 de maio, trazendo a Imprensa Régia (depois transformada em Imprensa Nacional, a mesma que publica o Diário Oficial da União, lançado em 1862).
Entretanto, anterior à chegada da corte portuguesa à colônia, já havia aqui instalada uma tipografia, a de Antônio Isidoro da Fonseca, que foi vetada por uma carta régia em 1747, proibindo a impressão de livros e avulsos. No ano em que data o surgimento da imprensa no Brasil, ela passa a ser permitida, contudo, apenas entre os colonizadores, ou seja, a uma pequena camada, sendo ainda objeto apenas de desejo dos colonizados.
Adotando um outro ponto-de-vista, temos um segundo conceito para imprensa que se estabelece como: “o conjunto de jornais e publicações congêneres; qualquer meio de comunicação de massa”. Partindo dessa segunda investigação, novamente temos datas distintas. A primeira delas consiste no surgimento do primeiro jornal a circular oficialmente no Brasil em português, o Correio Braziliense em 1º de junho de 1808, editado e impresso em Londres, fundado, dirigido e redigido por Hipólito da Costa. “Resolvi lançar esta publicação na capital inglesa dada a dificuldade de publicar obras periódicas no Brasil, já pela censura prévia, já pelos perigos a que os redatores se exporiam, falando livremente das ações dos homens poderosos”.
Jornal oficial, feito na imprensa oficial brasileira só surgiria três meses depois do Correio Braziliense, a Gazeta do Rio de Janeiro. Fundada em 10 de setembro de 1808, foi o primeiro jornal impresso no Brasil, nas máquinas da Impressão Régia, no Rio de Janeiro. Publicado duas vezes por semana, era um jornal oficial e consistia, basicamente, de comunicados do governo. Era seu editor o Frei Tibúrcio José da Rocha. Também publicava informes sobre a política internacional, em especial, a realidade européia diante dos conflitos napoleônicos e a instabilidade das colônias americanas da Espanha. A rígida censura imposta pela Coroa portuguesa garantia o filtro das notícias impedindo a divulgação de temas relacionados ao liberalismo na política.
Num patamar regional, o primeiro periódico surgido na Bahia foi Idade d'ouro (1811 – Salvador). O Idade d'Ouro do Brazil foi um periódico publicado em Salvador, na Bahia, no início do século XIX. Foi o primeiro jornal a ser impresso na então Província da Bahia, na tipografia fundada e dirigida por Manuel Antônio da Silva Serva. Com quatro páginas, circulou as terças e sextas-feiras, no período de 14 de maio de 1811 a 24 de junho de 1823. Publicado sob a proteção do Conde dos Arcos, tinha como redatores Diogo Soares da Silva de Bivar e o padre Ignácio José de Macedo. A sua linha editorial era conservadora, defendendo o absolutismo monárquico português. Com a derrota e expulsão das forças portuguesas sob o comando do brigadeiro Inácio Madeira de Melo em 2 de Julho de 1823, o jornal deixou de circular. A indignação dos patriotas brasileiros contra o periódico era de tal monta que o livreiro Paul Martin, seu agente no Rio de Janeiro, desistiu de vendê-lo, restituindo aos clientes o valor das assinaturas recebidas.

Cem anos de imprensa

Cem anos de incansáveis batalhas se seguem, ora contra a censura – que apenas amenizar-se-ia com a primeira lei de liberdade de imprensa assinada por D. Pedro, príncipe regente, em 18 de junho de 1822 –, ora com outros inúmeros periódicos que surgiriam . Mas os impressos resistiriam para comemorar o seu primeiro centenário.
Tendo lugar de destaque nas comemorações do centenário da imprensa brasileira, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro foi o seu principal responsável. A frente do IHGB estava Alfredo de Carvalho (1870 – 1913), idealizador da manifestação, e Max Fleiuss (1868 – 1943), frente à Comissão e mobilizador, em correspondência, dos estados do país para a data.
Na décima terceira sessão extraordinária, que, a 29 de julho de 1907, realizou o Instituto, foi comunicado aos presentes a idéia de promover uma solenidade, de caráter essencialmente histórico, para comemorar o primeiro centenário da imprensa periódica no Brasil. Teve também a Exposição Comemorativa do 1º Centenário da Imprensa no Brasil a fortuna de contar como seu diligente colaborador o Dr. Alfredo de Carvalho, cujos notáveis conhecimentos bibliográficos acham afirmados por obras que não datam de hoje. Além do magnífico catálogo relativo ao Estado de Pernambuco, que organizou a Exposição, e dos fecundos subsídios para o da Bahia, igualmente elaborou a Gênese e Progressos da Imprensa periódica no Brasil, erudita e notável prefação aos catálogos parciais. (Nehib, 2002)
Ainda como resultado da comemoração do centenário, o IHGB lançou em 1908 a Revista do Instituto Historico e Geográphico Brazileiro comemorativo do Primeiro Centenário da Imprensa Periódica no Brasil.
Contraditório a toda essa excitação, os periódicos da época praticamente não se manifestaram sobre o fato. Alguns poucos disponibilizaram curto espaço, e menores ainda lisonjeios, a Imprensa na data.

O Bicentenário

Para a comemoração do bicentenário, em 2008, prioridades estão sendo discriminadas pela Rede Alfredo de Carvalho – constituída formalmente em reunião na Associação Brasileira de Imprensa no Rio de Janeiro, no dia 5 de abril de 2001. Uma dessas prioridades é a atualização do inventário da imprensa brasileira, com a intenção de preencher as brechas deixadas pela equipe de 1908 completando-o até o ano de 2008.
Desde 2002, universidades de todo o Brasil estão envolvidas neste projeto, tendo como líder o Núcleo de Jornalismo da Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Além das instituições anteriores, a Abecom – Associação Brasileira de Escolas de Comunicação – e a Compós – Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação – estão sendo convocadas para juntar-se a equipe.
A previsão de conclusão da pesquisa coincide, exatamente, com o ano a ser comemorado e com previsão de conseguir cobrir todo o território nacional. Além disso, uma coletânea dos encartes de publicações da revista Imprensa que vem publicando, desde junho de 2000, histórias de vida dos protagonistas do jornalismo brasileiro, intitulada Memória da Imprensa – 200 anos da Comunicação Brasileira, 1808-2008 do editor Sival Itacarambi Leão. Todos esses manifestos estão amparados pela plataforma da Rede Alfredo de Carvalho que visa desenvolver ações públicas destinadas a comemorar os 200 anos da implantação da imprensa no Brasil preservando sua memória e construindo sua história. Sua motivação principal é a socialização dos benefícios culturais da imprensa para toda a sociedade.
Alexandre Rodrigues

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Patrimônio Social jogado as traças.

Maior acervo baiano de periódicos encontra-se em estado de degradação avançado por falta de incentivo governamental em investimentos para sua restauração e manutenção.
Fundado por Tranquilino Leovigildo Torres em 13 de maio de 1894, o Instituto Histórico e Geográfico da Bahia abriga, hoje, o maior acervo de periódicos do Estado. Títulos como jornal A Tarde e Correio da Bahia dividem espaço com manuscritos de poesia de Antônio Castro Alves, cartas de Antônio Conselheiro, sugestão de Pedro Deway para a abolição gradativa da escravatura, autógrafos de Joana Angélica, partitura do Te Deum do Maestro Damião Barbosa, partituras de Alfredo Correia e muitos outros que compõem os inúmeros exemplares que se amontoam nas estantes e calabouços do casarão situado na Praça da Piedade.
Desde sua fundação a instituição tem como finalidade arquivar todo e qualquer documento histórico que estiver ao seu alcance, dando maior atenção aos que se referem, direta ou indiretamente, a Bahia. Entretanto, por falta de verba e de condições necessárias para o armazenamento devido de todo o material, inimigos naturais como às traças e o cupim deliciam-se com o banquete. Como se esses já não fossem suficientes ainda há um outro agravante a ser enfrentado: o tempo. A estimativa de durabilidade do papel fabricado para jornais é de aproximadamente 50 anos, tempo de vida menor do que muitos exemplares que se encontram no estabelecimento, aglomerados em estantes, sem organização, sem espaço suficiente para uma devida catalogação, sem uma ambientação climática necessária para prolongar sua vida útil, passando de hemeroteca a uma cúpula de mofo e ácaros.
Segundo a Presidente do Instituto, a Profª. Consuelo Pondé Sena, em 1996 um projeto para microfilmagem de todos os periódicos e armazenamento em CD-ROM foi aprovado pelo Faz Cultura – projeto de incentivo a cultura do Goverbo do Estado, sendo o do ano citado patrocinado pela PETROBRÁS – e posteriormente teve negada a liberação da verba conquistada, sendo alegada falta de visibilidade para a empresa. Além da PETROBRÁS, a presidente da Casa ainda desabafa que pedidos de ajuda financeira, incessantemente, feitos ao Governo do Estado passam despercebidos e sem significação.
Onze anos depois de aprovado o projeto, sem a verba liberada e sem iniciativa do governo do Estado que não manifesta nem conhecimento de causa, um verdadeiro tesouro social vai sendo apreciado apenas pelas pestes que deles se alimentam. Estantes estão desmoronando por acusa do cupim e da umidade proveniente de infiltrações; ar-condicionados que faziam a manutenção climática do ambiente já não funcionam a tempos; pilhas de livros/arquivos são encontradas nos porões do casarão por não haver espaço adequado e suficiente para organizá-los.
É, realmente, uma pena que o descaso dos órgãos governamentais seja responsável por terrível acontecimento. Contudo, se uma atitude não for tomada rapidamente, toda a História Social da Bahia será perdida gradativamente por entre pestes e esquecimento, até que dela reste apenas pó.
Alexandre Rodrigues

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

NÓSeOSdeCASA

NÓSeOSdeCASA é uma iniciativa da Escola de Dança, da Universidade Federal da Bahia, para apresentar e fomentar a formação de grupos independentes iniciados dentro da mesma. O anfitrião do projeto é o GDC – Grupo de Dança Contemporâneo da UFBA, com o espetáculo Ilinx, montagem de 2006 de grande repercussão, tendo sido convidado para uma mostra de Dança Contemporânea no Centro Coreográfico do Rio de Janeiro.

O nome do espetáculo vem do termo grego que significa turbilhão de águas. Dele se originou a palavra ilingos, que quer dizer vertigem. “Este conceito foi apresentado por Roger Caillois, antropólogo que faz análise dos jogos como base para comportamentos sociais do homem e animais. Ele classifica quatro jogos e Ilinx é um deles. É o jogo da vertigem”, conta Leda Muhana. “Iinx é a tentativa de destruir por um instante a estabilidade da percepção e essa perturbação procurada pela vertigem é entendida por um fim em si mesma”, continua. Por exemplo, a criança que gira até perder o controle; dervixes (dançarinos que rodam sem parar como uma prática religiosa, uma meditação por meio da dança); os voladores mexicanos; a aranha que cai de vez no fio; o cachorro que corre atrás da cauda. “O jogo é configurado por estados alterados e o olhar dos outros”, explica.

Um dos convidados será recebidos o grupo CoMteMpu´s, com o espetáculo Semi (novíssimos), que propõe uma discussão do corpo como um fenômeno plástico (possível de manipulações, adaptações e distorções) e faz analogias às relações de poder na sociedade. A composição da obra se dá meio a cenas que montam e se desmontam em instantes, como as “pílulas” (ícones) criadas pela cultura de massa. A propaganda, a moda, a TV e todo esse ambiente regido por aparências/imagens dão mote para a criação das metáforas do “corpo-plástico-objeto” (textos, movimentos, ambientes e objetos) exploradas em cena.

O outro convidado a dividir o espaço cênico é o grupo Mazurca, com o espetáculo Dois Gumes, primeiro projeto de dança contemplado pelo programa VIVACULTURA – Lei de municipal de incentivo à cultura da Prefeitura Municipal de Salvador. Resultado de uma pesquisa que analisa as possibilidades de investigação corporal através da dança de salão, trata de relações amorosas a partir da dança de salão porque no momento em que ocorre o bailado, dama e cavalheiro se encontram em posições dependentes como num relacionamento.

As apresentações ocorrem todas as sextas e sábados de 17 de agosto a 27 de outubro, salvo nos finais de semanas considerados feriados (07 e 08/09 e 12 e 13/10), sempre às 19:30 no Teatro do Movimento, espaço desenvolvido, na própria Escola de Dança, com a proposta de diminuir o distanciamento entre espectador e espetáculo.

Alexandre Rodrigues

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Jornal de banheiro - O início

Começo hoje uma trajetória da qual me fiz distante até o momento, mas como hoje tudo nos alcança querendo, ou não, devemos escolher se acompanhamos o ritmo de tudo ou nos deixamos atropelar pelos "avanços" da vida.

Antes de qualquer postagem específica, creio se fazer nescessário uma explicação no que diz respeito ao título do blog. Bem, de duas possibilidades uma se encaixara com as determiadas opinões de quem o visitará, já que será ou um passatempo gostoso, ou mesmo um lugar de onde só se sai porcaria.

Brincadeiras a parte, tenho a intenção apenas de transcrever pensamentos e posicionamentos particulares sobre assuntos diversos, sempre dando maior enfoque a área cultural da qual faço parte.

Aproveitando a deixa, apresento-me. Eu, de nome Alexandre Rodrigues, 21 anos de idade, cursando faculdade de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e aspirante a uma vaga na Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, bailarino, professor e coreógrafo, atuo na área de dança e de acessoria, até então, e desejo com as formações conjuntas me tornar um jornalista da área cultural, bem como um crítico em dança.

Por enquanto fico por aqui esperando ansiosamente pela primeira oportunidade de dedilhar o teclado postando no blog que acaba de sair do forno.

Aos que passam... Bem vindos e sintam-se a vontade para, sem receio, participar.

Abraços.

Alexandre Rodrigues