quarta-feira, 3 de outubro de 2007

AXÉ: Arte multiplicando Educação

Da rua para o palco, do palco para a vida. Há 17 anos o projeto AXÉ vem resgatando crianças do submundo das drogas e da prostituição, trazendo-as de volta ao convívio social por intermédio da arteducação. Durante esse tempo já foram assistidas pelo projeto mais de 13.000 crianças e adolescentes.
Fundado em 1990, pelo florentino Cesare de Florio La Rocca, educador e advogado, nasce em Salvador um projeto que já vinha sendo pensado e estruturado cinco anos antes, o Projeto AXÉ. Incentivado pela organização italiana não-governamental de cooperação internacional, Terra Nuova, e pelo Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua e com clara atuação política e pedagógica, instala-se com o objetivo de resgatar crianças e adolescentes que vivem nas ruas, ou filhos da exclusão, como os denomina Cesare, dando-lhes educação de qualidade.
O projeto, que atende hoje aproximadamente 1.500 crianças e adolescentes, começa nas ruas, nas chamadas Escola a Céu aberto, onde educadores instruídos fazem um trabalho de conscientização e estímulo para seduzi-las. Segundo Caubi Nova, professor de História que trabalha como Assessor e Educador Popular do AXÉ, “o intuito é fazer com que essas crianças queiram vir para o AXÉ, não que sejam trazidas, mas que venham por elas mesmas”, nomeando esta etapa de Educação de Rua, que atende crianças de 4 a 17 anos. Posterior a essa conquista, os educadores fazem a primeira de muitas e constantes visitas de acompanhamento às famílias dos menores. “Toda criança que está na rua tem família [...] aquelas crianças que estão ali têm uma história, elas são resultado da estrutura de uma sociedade perversa”, complementa Caubi. Incentivando, sempre, a formação do pensamento individual e subjetivo de cada criança enquanto ser pensante, o AXÉ não descarta a bagagem de conhecimento e de cultura das que chegam a ele, despertando assim, pequenos professores.
Incluídas efetivamente no projeto, essas crianças são dividas em grupos de acordo com suas necessidades e idade. Crianças entre 4 e 11 anos são encaminhadas para o Canteiro dos Desejos, espaço pedagógico que trabalha o lúdico, o imaginário e a cultura infantil, tentando viabilizar a contemplação das diversas áreas do conhecimento. Jovens com idade superior a 11 anos são encaminhados a uma das Unidades Educacionais do Pelourinho, Unidade de Dança e Capoeira e Unidades de Profissionalização, que atendem jovens de 12 a 18 anos, para a qual o projeto disponibiliza oficinas e companhias. Dentre elas está a Usina da Dança, que engloba a Escola de Dança Gicá e a Cia. Jovem de Dança, e trabalha com uma ampla visão cultural levando em consideração as manifestações expressivas das vidas e experiências vivenciadas pelas crianças. Destacando a cultura local e as manifestações étnicas universais, preocupa-se com a coerência dos seus conceitos éticos e estéticos e não apenas com a performance técnica interpretativa. Da mesma forma atua a oficina de Teatro, em parceira com o Teatro XVIII, no qual se apresentam espetáculos do projeto, e a oficina de Música, denominada Casa dos Sons (Canto Coral e Individual, Capoeira, Instrumentos Musicais e BANDAXÉ), que conta com o apoio indireto de artistas baianos como Caetano Veloso e Gilberto Gil, que cedem espaços em seus shows para apresentação do grupo percursivo do AXÉ. Como pré-requisito, é obrigatório fazer parte da oficina de capoeira pelo tempo mínimo de um ano, como incentivo ao conhecimento e contato da cultura popular local.
Jovens com idade a partir de 16 e limite de 24 anos são incluídos no campo de trabalho em uma das Empresas Educativas (Modaxé, Stampaxé, Casaxé e Opaxé), onde vivenciarão desde a formação e construção de um pensamento e visão mercadológica do mundo atual, até a criação e confecção de materiais de consumo básico, como roupas. Essas empresas visam preparar o jovem para o convívio no mercado de trabalho, além da educação para a cidadania e a construção de seus próprios projetos de vida pessoal e social, nutrindo sua consciência de direitos e deveres. Para esses jovens é disponibilizada uma bolsa auxílio de R$185,00 (cento e oitenta e cinco reais) como ajuda de custo, além de cachês dos que atuam em alguma das Cia. em apresentações municipais, nacionais e internacionais. O AXÉ hoje, também se consagra por ser uma ONG a importar talentos para fora do país, como o jovem Diego atual bailarino do Ballet Bolshoi.
Tendo como um dos maiores apoiadores informais a Universidade Federal da Bahia e o grupo JACA – Juventude Ativista de Cajazeiras – também conta com o apoio das Secretarias da Cultura e da Educação do Governo do Estado da Bahia, através de convênios para liberação de verba para o projeto. Além dessas organizações públicas, empresas privadas como a Coelba, Jacques Janine, Rede Globo de Produção, dentre outros, dividem o espaço com apoiadores e parceiros internacionais, como a Associazione Axé Itália, Embaixada da Itália no Brasil, Governo da Itália através do Ministério das Relações Exteriores, e muitos outros.
Fazendo funcionar, assim, a teoria de que a partir da descoberta que o diálogo entre a arte e a educação e os conflitos provenientes dessa fusão, produzam estímulos cognitivos e sensoriais que são fundamentais para o entendimento da vida, que desloca os jovens do AXÉ de um patamar restrito e sem perspectivas, próprio da sua condição social, para uma percepção de que há na vida, um tempo e um espaço infinitos a serem conquistados.

Alexandre Rodrigues

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