sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Imprensa brasileira: 200 anos de estórias.

História e conceito

Antes que seja elucidado qualquer tema a respeito da Imprensa e sua história no Brasil, faz-se necessário definir o que se caracteriza como tal. Recorrendo ao dicionário, existem significados distintos para um mesmo item, o que não se torna tão surpreendente na língua portuguesa.
Em um primeiro conceito para imprensa, encontramos a forma primitiva e concreta da palavra, que se caracteriza por “máquina que se imprimi ou estampa; arte da tipografia”. Se considerarmos esse o termo real de imprensa, temos algumas convergências. Datas nos levam a crer que a imprensa no Brasil chega juntamente com a família real portuguesa, tendo como príncipe regente D. João em 1808, mais especificamente a 13 de maio, trazendo a Imprensa Régia (depois transformada em Imprensa Nacional, a mesma que publica o Diário Oficial da União, lançado em 1862).
Entretanto, anterior à chegada da corte portuguesa à colônia, já havia aqui instalada uma tipografia, a de Antônio Isidoro da Fonseca, que foi vetada por uma carta régia em 1747, proibindo a impressão de livros e avulsos. No ano em que data o surgimento da imprensa no Brasil, ela passa a ser permitida, contudo, apenas entre os colonizadores, ou seja, a uma pequena camada, sendo ainda objeto apenas de desejo dos colonizados.
Adotando um outro ponto-de-vista, temos um segundo conceito para imprensa que se estabelece como: “o conjunto de jornais e publicações congêneres; qualquer meio de comunicação de massa”. Partindo dessa segunda investigação, novamente temos datas distintas. A primeira delas consiste no surgimento do primeiro jornal a circular oficialmente no Brasil em português, o Correio Braziliense em 1º de junho de 1808, editado e impresso em Londres, fundado, dirigido e redigido por Hipólito da Costa. “Resolvi lançar esta publicação na capital inglesa dada a dificuldade de publicar obras periódicas no Brasil, já pela censura prévia, já pelos perigos a que os redatores se exporiam, falando livremente das ações dos homens poderosos”.
Jornal oficial, feito na imprensa oficial brasileira só surgiria três meses depois do Correio Braziliense, a Gazeta do Rio de Janeiro. Fundada em 10 de setembro de 1808, foi o primeiro jornal impresso no Brasil, nas máquinas da Impressão Régia, no Rio de Janeiro. Publicado duas vezes por semana, era um jornal oficial e consistia, basicamente, de comunicados do governo. Era seu editor o Frei Tibúrcio José da Rocha. Também publicava informes sobre a política internacional, em especial, a realidade européia diante dos conflitos napoleônicos e a instabilidade das colônias americanas da Espanha. A rígida censura imposta pela Coroa portuguesa garantia o filtro das notícias impedindo a divulgação de temas relacionados ao liberalismo na política.
Num patamar regional, o primeiro periódico surgido na Bahia foi Idade d'ouro (1811 – Salvador). O Idade d'Ouro do Brazil foi um periódico publicado em Salvador, na Bahia, no início do século XIX. Foi o primeiro jornal a ser impresso na então Província da Bahia, na tipografia fundada e dirigida por Manuel Antônio da Silva Serva. Com quatro páginas, circulou as terças e sextas-feiras, no período de 14 de maio de 1811 a 24 de junho de 1823. Publicado sob a proteção do Conde dos Arcos, tinha como redatores Diogo Soares da Silva de Bivar e o padre Ignácio José de Macedo. A sua linha editorial era conservadora, defendendo o absolutismo monárquico português. Com a derrota e expulsão das forças portuguesas sob o comando do brigadeiro Inácio Madeira de Melo em 2 de Julho de 1823, o jornal deixou de circular. A indignação dos patriotas brasileiros contra o periódico era de tal monta que o livreiro Paul Martin, seu agente no Rio de Janeiro, desistiu de vendê-lo, restituindo aos clientes o valor das assinaturas recebidas.

Cem anos de imprensa

Cem anos de incansáveis batalhas se seguem, ora contra a censura – que apenas amenizar-se-ia com a primeira lei de liberdade de imprensa assinada por D. Pedro, príncipe regente, em 18 de junho de 1822 –, ora com outros inúmeros periódicos que surgiriam . Mas os impressos resistiriam para comemorar o seu primeiro centenário.
Tendo lugar de destaque nas comemorações do centenário da imprensa brasileira, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro foi o seu principal responsável. A frente do IHGB estava Alfredo de Carvalho (1870 – 1913), idealizador da manifestação, e Max Fleiuss (1868 – 1943), frente à Comissão e mobilizador, em correspondência, dos estados do país para a data.
Na décima terceira sessão extraordinária, que, a 29 de julho de 1907, realizou o Instituto, foi comunicado aos presentes a idéia de promover uma solenidade, de caráter essencialmente histórico, para comemorar o primeiro centenário da imprensa periódica no Brasil. Teve também a Exposição Comemorativa do 1º Centenário da Imprensa no Brasil a fortuna de contar como seu diligente colaborador o Dr. Alfredo de Carvalho, cujos notáveis conhecimentos bibliográficos acham afirmados por obras que não datam de hoje. Além do magnífico catálogo relativo ao Estado de Pernambuco, que organizou a Exposição, e dos fecundos subsídios para o da Bahia, igualmente elaborou a Gênese e Progressos da Imprensa periódica no Brasil, erudita e notável prefação aos catálogos parciais. (Nehib, 2002)
Ainda como resultado da comemoração do centenário, o IHGB lançou em 1908 a Revista do Instituto Historico e Geográphico Brazileiro comemorativo do Primeiro Centenário da Imprensa Periódica no Brasil.
Contraditório a toda essa excitação, os periódicos da época praticamente não se manifestaram sobre o fato. Alguns poucos disponibilizaram curto espaço, e menores ainda lisonjeios, a Imprensa na data.

O Bicentenário

Para a comemoração do bicentenário, em 2008, prioridades estão sendo discriminadas pela Rede Alfredo de Carvalho – constituída formalmente em reunião na Associação Brasileira de Imprensa no Rio de Janeiro, no dia 5 de abril de 2001. Uma dessas prioridades é a atualização do inventário da imprensa brasileira, com a intenção de preencher as brechas deixadas pela equipe de 1908 completando-o até o ano de 2008.
Desde 2002, universidades de todo o Brasil estão envolvidas neste projeto, tendo como líder o Núcleo de Jornalismo da Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Além das instituições anteriores, a Abecom – Associação Brasileira de Escolas de Comunicação – e a Compós – Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação – estão sendo convocadas para juntar-se a equipe.
A previsão de conclusão da pesquisa coincide, exatamente, com o ano a ser comemorado e com previsão de conseguir cobrir todo o território nacional. Além disso, uma coletânea dos encartes de publicações da revista Imprensa que vem publicando, desde junho de 2000, histórias de vida dos protagonistas do jornalismo brasileiro, intitulada Memória da Imprensa – 200 anos da Comunicação Brasileira, 1808-2008 do editor Sival Itacarambi Leão. Todos esses manifestos estão amparados pela plataforma da Rede Alfredo de Carvalho que visa desenvolver ações públicas destinadas a comemorar os 200 anos da implantação da imprensa no Brasil preservando sua memória e construindo sua história. Sua motivação principal é a socialização dos benefícios culturais da imprensa para toda a sociedade.
Alexandre Rodrigues

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Patrimônio Social jogado as traças.

Maior acervo baiano de periódicos encontra-se em estado de degradação avançado por falta de incentivo governamental em investimentos para sua restauração e manutenção.
Fundado por Tranquilino Leovigildo Torres em 13 de maio de 1894, o Instituto Histórico e Geográfico da Bahia abriga, hoje, o maior acervo de periódicos do Estado. Títulos como jornal A Tarde e Correio da Bahia dividem espaço com manuscritos de poesia de Antônio Castro Alves, cartas de Antônio Conselheiro, sugestão de Pedro Deway para a abolição gradativa da escravatura, autógrafos de Joana Angélica, partitura do Te Deum do Maestro Damião Barbosa, partituras de Alfredo Correia e muitos outros que compõem os inúmeros exemplares que se amontoam nas estantes e calabouços do casarão situado na Praça da Piedade.
Desde sua fundação a instituição tem como finalidade arquivar todo e qualquer documento histórico que estiver ao seu alcance, dando maior atenção aos que se referem, direta ou indiretamente, a Bahia. Entretanto, por falta de verba e de condições necessárias para o armazenamento devido de todo o material, inimigos naturais como às traças e o cupim deliciam-se com o banquete. Como se esses já não fossem suficientes ainda há um outro agravante a ser enfrentado: o tempo. A estimativa de durabilidade do papel fabricado para jornais é de aproximadamente 50 anos, tempo de vida menor do que muitos exemplares que se encontram no estabelecimento, aglomerados em estantes, sem organização, sem espaço suficiente para uma devida catalogação, sem uma ambientação climática necessária para prolongar sua vida útil, passando de hemeroteca a uma cúpula de mofo e ácaros.
Segundo a Presidente do Instituto, a Profª. Consuelo Pondé Sena, em 1996 um projeto para microfilmagem de todos os periódicos e armazenamento em CD-ROM foi aprovado pelo Faz Cultura – projeto de incentivo a cultura do Goverbo do Estado, sendo o do ano citado patrocinado pela PETROBRÁS – e posteriormente teve negada a liberação da verba conquistada, sendo alegada falta de visibilidade para a empresa. Além da PETROBRÁS, a presidente da Casa ainda desabafa que pedidos de ajuda financeira, incessantemente, feitos ao Governo do Estado passam despercebidos e sem significação.
Onze anos depois de aprovado o projeto, sem a verba liberada e sem iniciativa do governo do Estado que não manifesta nem conhecimento de causa, um verdadeiro tesouro social vai sendo apreciado apenas pelas pestes que deles se alimentam. Estantes estão desmoronando por acusa do cupim e da umidade proveniente de infiltrações; ar-condicionados que faziam a manutenção climática do ambiente já não funcionam a tempos; pilhas de livros/arquivos são encontradas nos porões do casarão por não haver espaço adequado e suficiente para organizá-los.
É, realmente, uma pena que o descaso dos órgãos governamentais seja responsável por terrível acontecimento. Contudo, se uma atitude não for tomada rapidamente, toda a História Social da Bahia será perdida gradativamente por entre pestes e esquecimento, até que dela reste apenas pó.
Alexandre Rodrigues