sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Música e proximidade com o divino


Pediram-me para escrever sobre a relação de música e religião. De fato não tenho muita bagagem para discorrer sobre o assunto, porém não poderia recusar o convite em se tratando de uma pessoa tão querida e de algo que me proporciona tanto prazer: escrever.

Confesso que não havia feito nenhuma reflexão até o momento em que Fabrício me pediu para escrever sobre o tema, contudo deparo-me com um turbilhão de especulações a respeito.

Poderia falar do candomblé, afinal é uma das religiões mais antigas e que tem como fundamento do ato de cultuar divindades a música e a dança. Mas falta-me conhecimento de causa, vivência. Por isso atenho-me a experimentações que tive com realidades mais próximas a minha.

Começo apresentando a minha visão de religião. Estudei em colégio católico durante toda a infância, fui batizado e fiz primeira eucaristia, porém não sou adepto do catolicismo por motivos práticos e pessoais que não têm necessidade de serem discorridos aqui. Tenho alguma formação e afinidade com a doutrina espírita e um apreço e certo gosto pela cultura africana como um todo.

Durante toda a infância freqüentei missas e sermões católicos, alguns voluntariamente, entretanto, na maioria das vezes por falta de opção. De uma forma bem pessoal não conseguia acompanhar toda a rotina daquele culto a fé, era exaustivo demais. Leituras, pregações, sermões, conselhos, lições e tantos outros falatórios e frases pré-decoradas que lembravam uma sabatina de uma prova oral. Lembro-me de muitas crianças, como eu, que eram mandadas brincar nos arredores da igreja, onde aconteciam as missas, já que as mães não conseguiam conter tanta inquietude.

Minha primeira comunhão foi repleta de músicas, canções que dinamizavam a cerimônia, talvez para aplacar a euforia infantil daqueles que deveriam permanecer ali durante mais de uma hora esperando o momento de receber pela primeira vez o “corpo de Cristo”. Sim, hoje penso que foi uma forma lúdica de levar a cerimônia sem que caísse no descaso, como toda brincadeira termina por cair. Funcionou. Entre aulas de música e seleções para solistas os ensaios e a cerimônia correram divinamente. (rs)

Depois disso, outras poucas missas tiveram a presença dos iniciados na comunhão com o divino.

Com a adolescência e toda a sua euforia em conquistar o mundo, só voltei a um ambiente religioso na época do cursinho por convite de uma amiga. Era uma celebração batista, nunca havia estado em uma. Impressionei-me com a quantidade notavelmente superior de cantigas entoadas durante a cerimônia. Elas misturavam-se as pregações e muitas eram de uma musicalidade admirável, nada que se comparassem as apáticas conhecidas por mim. Não imaginaria algo assim.

Percebi com o tempo que religiões com uma doutrina semelhante em conteúdo, mas diferente em postura, se comparadas à católica, possuíam um arsenal maior de musicalidade do que eu estava habituado. E não se tratavam de trechos cantados de uma cerimônia, mas, sim, de canções como quaisquer outras. Canções com letras, melodias, ritmos que vão do lírico ao hip-hop.

Alguém já parou para se perguntar o quanto a música aproxima pessoas de diferentes classes sociais, níveis de escolaridade, padrão financeiro, entre muitos outros fatores?

Não importa quem está ao lado de quem, de onde vem, o que possui, ou qualquer outro tipo de generalidade que as diferenciem, cantando todos se igualam como num coro que formasse uma só voz, com um mesmo propósito: louvar o seu Deus tendo ele o nome que for.

Essa foi a jogada. Acabar com a monotonia e unir aqueles que buscam conforto para seus problemas procurando apoio na fé. Religiões americanas já trabalhavam música como forma de oração. Essa moda chegou ao Brasil, primeiro nas instituições consideradas pelo Vaticano menos ortodoxas e, agora, pela católica.

Missas cantadas, padres cantores, DVDs que renovam a fé através de canções de louvor, e pensar que há algum tempo tudo não passam de “améns”. A música envolve, liberta, acalma e já é usada, inclusive, como terapia, por que não utilizá-la como artifício para renovar a fé?

A música toma o lugar de oração, entoando letras glorificantes os fies se deixam envolver pelo sentimento de elevação de suas adorações, pedidos, súplicas, se aproximam de Deus, seja ele Jesus, Jeová, Oxalá ou qualquer outro nome que receba. A música como forma de oração conecta o ser humano a sua concepção de força maior, responsável pela gestão do universo e tudo que há nele. Envolve numa espécie de transe quem canta, elevando seus pensamentos a única divindade capaz de amenizar suas angústias.

Se existe de verdade um Deus? Isso não serei eu a responder, afinal acredito que exista, sim, uma energia maior que o pensamento, capaz de mover as famosas “montanhas”. A essa energia chamam fé. Fé em que? Isso cabe a cada um decidir, ou escolher, ou encontrar, não sei. Mas a certeza é de que a música como mecanismo para aproximar o humano ao divino tem contribuído para a renovação das instituições religiosas, para a volta de seus seguidores e como refúgio para o sofrimento de um mundo tão massacrado como este no qual vivemos.

Para terminar, gostaria de previamente desculpar-me com aqueles que, de alguma forma, possam ter sentindo-se ofendidos com algum trecho do texto que acaba de ler. Entretanto, lembro que todo o conteúdo do mesmo, por se tratar de um tema repleto de interpretações pessoais, não é para ser tomado como verdade absoluta. Apenas é a explanação de pensamentos MEUS a respeito de uma proposta lançada sobre a ligação entre música e religião.

Alexandre Rodrigues