sexta-feira, 5 de abril de 2013

Em nome da fé ou da liberdade?



Muito tem sido discutido sobre toda essa questão de homofobia desde a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias ter sido dada a Marco Feliciano. Não, também não sou a favor de que ele continue no cargo, entretanto toda a proporção a qual chegou essa “manifestação” tem tomado proporções circenses de ambas às partes.

Sou defensor da igualdade de direitos, do respeito ao próximo, da liberdade de escolha e da boa convivência entre todos. Contudo, é preciso que agucemos nossa percepção para que uma luta idealista não vire algo sem propósito, um carnaval ao qual o brasileiro está acostumado.
Todo o movimento GLBT tem propósitos e ideologias bem organizadas e estruturadas, brigam contra o preconceito, e buscam uma condição de vida socialmente igualitária. Porém, tenho visto esse movimento se deteriorar e ser deturpado pela falta de postura daqueles que se dizem aderir à causa, pois estão advogando em causa própria.

Muitas críticas têm sido dirigidas ao Pastor e seu radicalismo, mas não paramos para avaliar o quão radical também tem sido a postura do outro lado. O discurso do evangélico de não se sentir a vontade em ver dois homens se beijando em público está baseado naquilo em que acredita. Concordo que a forma como isso tem sido exposto e tratado pela igreja a qual pertence se dá de forma exacerbada e impositória. Entretanto, por mais evoluídos que possamos parecer, a menos que façamos parte deste pequeno número de homens, gays e que sentem a necessidade dessa demonstração pública de carinho, também nos chamaria a atenção à cena, por mais que não nos consideremos preconceituosos, pela dificuldade de tratar com naturalidade algo ao qual não se está acostumado.

Entendamos. Por mais evoluída e liberal que seja nossa sociedade, ela ainda é machista e restritiva. A educação infantil ainda é feita a base do “certo e errado”, do “pode e não pode”, do “homem foi feito para mulher”. Toda essa restrição psicológica gera adultos radicais, independentemente da condição sexual, raça cor, credo. Não ensinamos nossos jovens a pensar, a encarar a diversidade como principio básico da condição humana.

As mulheres lutaram muito e conseguiram o direito de votar, de trabalhar, de serem independentes, porém sobre elas ainda recai o peso de cuidar da casa e de ser a mantedora da estrutura familiar, a mãe. A elas qualquer conduta que diverge do padrão montado para a figura feminina é tida como “fora dos padrões”, condutas essas que se adotas por um homem não passariam de “algo normal”. Da mesma forma os negros. Por mais que tenham conquistado seu espaço, depois de décadas de luta pela liberdade, sua cor ainda é fator de discriminação e isso está intrínseco no DNA da sociedade. É comum vermos a visibilidade que ganha um negro atingir um cargo como a presidência de uma das maiores potências mundiais. Bom, se não existisse mais nenhuma diferenciação por conta da cor da pele, se vivêssemos num mundo socialmente politizado, esse acontecimento deveria ser algo comum e não teria tomado a proporção midiática que se deu a época pelo fato dos EUA ter eleito seu primeiro presidente negro.

É preciso que o movimento GLBT tenha postura semelhante ao movimento feminista e o movimento racial. É preciso lutar sim, é preciso resistir à pressão de uma sociedade preconceituosa, mas não tentando impor, empurrar goela abaixo a sua ideologia ao outro, pois assim estarão agindo igual. Resistir e buscar a conquista do respeito é o fator determinante para que consigam, com o tempo, fazer valer tantos gritos de liberdade. Para conviver em sociedade é preciso respeitar o direito do outro, direito este que começa onde acaba o seu. A postura do “seja feita e minha vontade” de nada subsidiará qualquer das partes.

Sejamos racionais, demonstrações públicas de carinho devem ser encaradas com naturalidade, porém tenhamos mais empatia, nos coloquemos no lugar do outro. É fácil exigirmos aquilo que nos convém, mas sejamos capazes de entender a necessidade do outro, seja ele gay, hetero, lésbica, bissexual, negro, branco, amarelo. Mais do que igualdade de direitos, preguemos o respeito, pois essa será a base para a formação de uma sociedade no seu sentido etimológico.

Alexandre Rodrigues

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Não à intolerência

Em plena segunda-feira, às 7 da manhã, no caminho para o trabalho me deparo com um ser de jaleco branco, bíblia em punho aos berros em frente ao shopping Iguatemi.

O que ele fazia? 

Bem, pregava o evangelho segundo a sua crença, condenando aqueles que não aceitassem o seu Deus ao inferno.

Questiono-me sobre vários pontos, mas não cabe a mim discuti-los, afinal, disse algum sábio uma vez, religião, sexo e futebol não se discutem.

Contudo, concedo-me o direito de expor o meu ver sobre a minha religião tão condenada e massacrada por uma alienação religiosa que só gera intolerância.
Sabem por que o candomblé sobrevive até os tempos de hoje? Sabe como sobreviveu em outros tempos a perseguições ainda mais cruéis do que as contemporâneas?
Porque o candomblé não deseja provar a sua superioridade, não sai por ai catequizando ou lutando por adeptos, não bate a porta alheia para afirmar que o seu Deus é que deve ser cultuado.

Não!

O candomblé é um chamado. É ele quem escolhe seus filhos, como um vínculo de mãe. Não será visto em qualquer culto, encontro e/ou manifestação do "asé" a pregação ou discriminação de qualquer outra forma de adoração a divindades que não as suas, pois o candomblé, em sua infinita sabedoria de preto velho, entende que é preciso liberdade. A mesma liberdade tão sofrida, porém conquistada pelos negros trazidos escravizados para o Brasil.

O candomblé respeita o livre arbítrio do ser, também, na escolha da sua crença e na sua forma de adorar a energia superior que rege a vida.

E volto à imagem do homem de jaleco branco, não o culpo, ou condeno, ele prega o que acredita. O que abomino é a discriminação, a alienação a qual são expostas mentes fracas e desesperadas por ajuda, por algo que supra a necessidade de amparo a todas as provações terrenas.

A intolerância é fruto da ignorância, não no sentido de burrice, mas em julgar e condenar aquilo que não se conhece. O preconceito nasce do comodismo humano em condenar sem saber a fundo o que está sendo passível de culpa. É preciso humildade para reconhecer que não existem verdades absolutas. É preciso maturidade para entender que a minha verdade não faz a do outro mentira. É preciso sabedoria para aceitar que cada verdade se faz verdade pela capacidade de acreditar nela.

Sou do candomblé... Sim!

Sou filho de santo... Sim!

Tenho orgulho disso... Sim!

E sou coberto de asé por aqueles que me guiam, me cuidam e me protegem.

Digamos não a qualquer tipo de intolerância e preconceito.

"Eu não quero me tolerem, eu quero que me respeitem... Que respeitem o meu direito de ter a minha fé." Makota Valdina

Alexandre Rodrigues