terça-feira, 27 de novembro de 2007

Uma luz na escuridão

“Nestas noites das noites da rua, eu canto a autora...
Nestas noites escuras sem lua, eu canto a aurora...
Um sorriso de dor, a ternura... Aurora da Rua...”

Primeiro jornal de rua escrito e comercializado por moradores de rua, o Aurora da Rua, lançado em 24 de março do ano corrente chega a seu quarto fascículo e a 23 estados do país com um jeito singular de se fazer um jornal.
Projeto do irmão Henrique, como prefere ser chamado, francês residente no Brasil há 20 anos, é realizado na comunidade da Trindade, localizada no bairro da Água de meninos, na cidade baixa de Salvador, composta por aproximadamente 40 pessoas. O Aurora da Rua tem o objetivo não de fazer caridade, mas de fornecer oportunidade. Quer falar da rua através do ponto de vista de quem mora nela, apresentar as belezas e os horrores pela visão de quem vive nessa situação.
Todo o conteúdo é produzido por moradores de rua em oficinas orientadas e assessoradas por uma equipe de cinco jornalistas e quatro estudantes de jornalismo que recolhem todo material e os editam para serem vinculados no jornal. Depois de pronto, o jornal é passado aos vendedores pelo valor de R$0.25 (vinte e cinto centavos de real) para ser revendido por R$1.00 (um real), dando-os um lucro de 75% de cada exemplar vendido, diferente dos jornais convencionais nos quais o lucro é de R$0.05 (cinco centavos de real) por exemplar e ainda é exigida uma meta a ser cumprida.
Impresso bimestralmente, em papel de 65 gramas, colorido, com oito páginas e tiragem de 10.000 exemplares, tem elevado preço de produção que não é sustentado pela venda dos exemplares, já que todo o lucro é de quem os vende. Não possuindo anunciantes, o jornal tem parte de seu sustento derivado de assinaturas particulares que, hoje alcançam o numero de 200 assinantes espalhados por 23 estados no território brasileiro. Além disso, têm-se, ainda, assinaturas empresarias responsáveis pela maior parte da verba que financia o jornal que, em seu projeto de venda, cobram um valor maior do que o preço cobrado para as vendas diretas e para as assinaturas particulares. “Informamos às empresas que pagando um pouco mais pelo mesmo material eles estão garantindo que os vendedores continuem comprando o jornal com preço muito baixo sem que a qualidade seja perdia”, explica Henrique.
Todos os vendedores do jornal estão ou já passaram por condições de rua e, para venderem o jornal, passam por um treinamento específico. Ainda, recebem auxilio psicológico e participam de encontros com empresários, psicólogos e pequenas reuniões entre eles. O que se busca com toda essa preparação é modificar o pensamento dos vendedores mostrando que eles deixam de exercer uma relação de pedinte e caridoso, para exercer uma relação cliente e vendedor. Para que ainda seja mais clara essa relação e até mesmo a identificação dos vendedores do Aurora, eles recebem um material de uniformização composto de colete azul com marca e vendedor escrito no verso, boné com a marca do jornal, crachá de identificação com foto, nome e a marca do "Aurora da Rua” e bolsa azul com a marca "Aurora da Rua" para carregar os jornais.
Cada um desses vendedores monta a sua própria rotina de trabalho, estabelecendo onde e quanto tempo passam vendendo o jornal. Além disso, não há desperdício, pois os exemplares de uma edição anterior à lançada podem ser trocados por exemplares da nova edição na sede do jornal sem custo adicional. O interesse do projeto é fornecer oportunidade de trabalho aos que precisam, reinserindo-os na sociedade.
“O jornal é uma passagem, fornecemos oportunidade a essas pessoas saírem das condições de rua na qual vivem e possam voltar a ter uma vida” afirma Henrique.


Alexandre Rodrigues