Muito tem sido discutido sobre
toda essa questão de homofobia desde a presidência da Comissão de Direitos
Humanos e Minorias ter sido dada a Marco Feliciano. Não, também não sou a favor
de que ele continue no cargo, entretanto toda a proporção a qual chegou essa “manifestação”
tem tomado proporções circenses de ambas às partes.
Sou defensor da igualdade de
direitos, do respeito ao próximo, da liberdade de escolha e da boa convivência
entre todos. Contudo, é preciso que agucemos nossa percepção para que uma luta
idealista não vire algo sem propósito, um carnaval ao qual o brasileiro está
acostumado.
Todo o movimento GLBT tem
propósitos e ideologias bem organizadas e estruturadas, brigam contra o
preconceito, e buscam uma condição de vida socialmente igualitária. Porém,
tenho visto esse movimento se deteriorar e ser deturpado pela falta de postura
daqueles que se dizem aderir à causa, pois estão advogando em causa própria.
Muitas críticas têm sido
dirigidas ao Pastor e seu radicalismo, mas não paramos para avaliar o quão
radical também tem sido a postura do outro lado. O discurso do evangélico de
não se sentir a vontade em ver dois homens se beijando em público está baseado
naquilo em que acredita. Concordo que a forma como isso tem sido exposto e
tratado pela igreja a qual pertence se dá de forma exacerbada e impositória. Entretanto,
por mais evoluídos que possamos parecer, a menos que façamos parte deste pequeno
número de homens, gays e que sentem a necessidade dessa demonstração pública de
carinho, também nos chamaria a atenção à cena, por mais que não nos
consideremos preconceituosos, pela dificuldade de tratar com naturalidade algo
ao qual não se está acostumado.
Entendamos. Por mais evoluída e
liberal que seja nossa sociedade, ela ainda é machista e restritiva. A educação
infantil ainda é feita a base do “certo e errado”, do “pode e não pode”, do “homem
foi feito para mulher”. Toda essa restrição psicológica gera adultos radicais,
independentemente da condição sexual, raça cor, credo. Não ensinamos nossos
jovens a pensar, a encarar a diversidade como principio básico da condição
humana.
As mulheres lutaram muito e
conseguiram o direito de votar, de trabalhar, de serem independentes, porém
sobre elas ainda recai o peso de cuidar da casa e de ser a mantedora da
estrutura familiar, a mãe. A elas qualquer conduta que diverge do padrão
montado para a figura feminina é tida como “fora dos padrões”, condutas essas
que se adotas por um homem não passariam de “algo normal”. Da mesma forma os
negros. Por mais que tenham conquistado seu espaço, depois de décadas de luta
pela liberdade, sua cor ainda é fator de discriminação e isso está intrínseco no
DNA da sociedade. É comum vermos a visibilidade que ganha um negro atingir um
cargo como a presidência de uma das maiores potências mundiais. Bom, se não existisse
mais nenhuma diferenciação por conta da cor da pele, se vivêssemos num mundo
socialmente politizado, esse acontecimento deveria ser algo comum e não teria
tomado a proporção midiática que se deu a época pelo fato dos EUA ter eleito
seu primeiro presidente negro.
É preciso que o movimento GLBT
tenha postura semelhante ao movimento feminista e o movimento racial. É preciso
lutar sim, é preciso resistir à pressão de uma sociedade preconceituosa, mas
não tentando impor, empurrar goela abaixo a sua ideologia ao outro, pois assim
estarão agindo igual. Resistir e buscar a conquista do respeito é o fator determinante
para que consigam, com o tempo, fazer valer tantos gritos de liberdade. Para
conviver em sociedade é preciso respeitar o direito do outro, direito este que
começa onde acaba o seu. A postura do “seja feita e minha vontade” de nada
subsidiará qualquer das partes.
Sejamos racionais, demonstrações
públicas de carinho devem ser encaradas com naturalidade, porém tenhamos mais
empatia, nos coloquemos no lugar do outro. É fácil exigirmos aquilo que nos
convém, mas sejamos capazes de entender a necessidade do outro, seja ele gay,
hetero, lésbica, bissexual, negro, branco, amarelo. Mais do que igualdade de direitos,
preguemos o respeito, pois essa será a base para a formação de uma sociedade no
seu sentido etimológico.
Alexandre Rodrigues
Alexandre Rodrigues