sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Meu grande homem

Homenagem póstuma a meu avô.

A caminho do enterro do meu avô materno pensava no que dizer sobre sua vida. Ijaldir Ferreira Cunha, nascido em 28 de novembro de 1935, teve seu descanço às 2:45 da madrugada do dia 16 de dezembro de 2011.

Meu avô, pode-se pensar, não foi um grande homem, não realizou grandes feitos nem acumulou fortunas. Não tinha planos de mudar o mundo e mesmo conhecendo muitas pessoas, era de poucos amigos.

Mas como avaliar a grandeza de um homem por aquilo que possuiu em vida?

Esse homem que hoje deixa saudades aos seus entes, não se pode negar, apesar de todos os defeitos normais e cabíveis a um ser humano comum, possuio atributos muito mais louváveis e que só agora se fazem perceptíveis de forma transparente.

Homem de jeito simples, mas de uma inteligência pura, livre de títulos, sabedoria de vida. Sujeito de gênio forte, às vezes até grosseiro, mas de um coração enorme. Não lembro de uma só vez que tenha negado um favor, ou faltado aqueles que recorriam a ele. Ao contrário, ajudou sempre que pôde até a quem o machucou de forma irrecuperável.

Coração forte, depois de m acidente quase fatal na juventude, nove AVCs (Acidente Vascular Cerebral) e uma infecção que fez os médicos descreditarem que resistiria, continuou batendo. Até que cansou e numa madrugada, como ele sempre gostou, silenciosamente descançou.

Há quem julgue sua vida como normal, até insignificante, entretanto para mim, meu avô foi um grande homem.

Descance em paz Vô.


Alexandre Rodrigues

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Santo Orixá.



Bahia, terra de misturas, miscigenação, ponto de encontro de culturas e civilizações geograficamente distantes que encontraram em terras brasileiras seu ponto de fusão. Índios, europeus, africanos, com seus costumes, tradições, arquétipos sociais dividindo o mesmo espaço e, assim, sucumbindo às necessidades e dificuldades da convivência.



Dessa relação brotaram estruturas religiosas e sociais que perduram até o presente e diferenciam a Bahia dos demais continentes colonizadores/colonizados. E é sobre a adaptação religiosa que pretendo discorrer de forma superficial e pessoal partindo do pensamento lógico a partir de estudos sobre o candomblé.



Sabe-se que os negros quando aqui chegaram sofreram não só com a escravidão de seu povo, mas com inúmeras tentativas de catequização, tendo sua cultura e religião ameaçadas pelo colonizador europeu. Não pode ser desconsiderado o fato, também, de que os escravos trazidos para o Brasil eram de tribos diferentes e possuíam costumes e formatos culturais distintos, tendo que lidar com esses novos padrões sociais reestruturando sua religião e transformando-a no que conhecemos hoje como candomblé da Bahia.



Temos em nossa cultura para cada Orixá, entidade cultuada no candomblé, um referencial católico, os Santos. Essa associação não foi em vão. Na verdade foi a saída encontrada pelos escravos para cultuar os seus "deuses" sem ofender os seus senhores e o catolicismo, além de não perderem sua identidade africana.



Os orixás não possuem datas comemorativas anuais, eles são saudados de acordo com as necessidades e agradecimentos de cada tribo. Porém, durante a escravidão os negros não tinham liberdade para tais cultos, por esse motivo os arquétipos santos/orixás foram sendo aproximados pelas suas características em comum e, com isso, tiveram suas datas incluídas no calendário católico de acordo com o seu correspondente.



Entretanto, alguns orixás não tiveram associação direta, mas encontram força em lendas e determinações geográficas brasileiras, como é o caso do orixá Yemanjá. Sereia vaidosa, dona das águas salgadas e mãe de todos os orixás - esta última sendo apenas uma de suas lendas - Yemanjá firmou-se perante os pescadores, já que de muitos estados brasileiros a pesca era uma das principais formas de sustento, e de desbravadores marítimos que tinham as sereias como um dos muitos perigos dos mares, capazes de encantar os homens com seu cantos e afundar as embarcações nas quais navegavam.



Por esse motivo, a rainha dás águas salgadas assumiu traços europeus em sua imagem branca, com traços finos e trajes compostos. Convenhamos, se os orixás têm origem africana, como poderia um deles ter cor diferente do povo com quem mantêm o seu cordão umbilical?



Contudo, nem todas as divindades africanas puderam ser contempladas pela associação candomblé/catolicismo, criando um distanciamento e difícil conhecimento de tais entidades tais como: Logunedé, filho de Oxóssi, orixá das matas, e Oxum, orixá das águas doces, e que assume as características de seus pais; Ewa, entidade do canto, das coisas alegres e vivas, orixá da beleza e dos mistérios; Iroko, entidade da ancestralidade, que assume características no candomblé baiano conhecido como angola do orixá Tempo; Obá, guerreira menos vaidosa entre as entidades femininas e terceira esposa do orixá Xangô; entre muitos outros que se perderam no tempo.



Entender a diferenciação entre orixás e santos requer estudo, mente aberta para possibilidades e principalmente para um distanciamento da educação cultural que todo baiano é exposto desde seu nascimento. Somos educados para conviver com a mistura, com o naturalismo de cultos e formas diferentes, com a aproximação temporal de segmentos religiosos distintos em origens e formatações. Não se deve julgar certo ou errado a configuração atual, mas deixar de lado o comodismo de apenas aceitar o que existe para conhecer a pluralidade de uma cultura fascinante como a africana é enriquecer a mente e o espírito. Axé.



Alexandre Rodrigues

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Vendedores a beira de um ataque de nervos


Simpatia, boa comunicação, boa aparência e ótima lábia, essas são as qualidades que todos acham que fazem de um vendedor completo e eficaz. Mas, não é! Defendo até a morte que todos, absolutamente todos, deveriam passar pela experiência na área de vendas.

Ser vendedor é muito mais do que saber identificar a necessidade ou vontade do cliente, é preciso identificar como fazê-lo desejar o algo a mais, fazê-lo sentir-se bem em estar adquiriando determinado produto. Satisfação, não de suas necessidades, mas de seu prazer em comprar. Para quem acha que isso é injusto para com os clientes, provo que não.

Sabe aquela peça de roupa quase perfeita? Pois é, quase. Faltou a ela um centímetro a mais na cintura, um dedo mais alongada na manga, uma cor que não está na cartela da coleção, ou mesmo não pareceu bonita tanto quanto no manequim. Satisfeito? Não?

Então continuemos. Clientes normalmente devem imaginar que a loja se arruma sozinha, só isso explicaria a necessidade de desdobrar todos as peças de uma pilha de roupas milimetricamente arrumadas para sua admiração à procura do tamanho. Alguém já pensou em perguntar ou mesmo pedir ao vendedor o tamanho correto do produto desejado? Dá trabalho ter que arrumar por inúmeras vezes a mesma seção e manter o bom humor.

Entendo, também, que existem clientes de desejo, aqueles que não necessariamente precisam de algo, mas a vontade de elevar a auto estima presenteando-se a si mesmo. Mas, convenhamos, ainda que a intenção de compra não seja efetiva, é preciso experimentar a loja inteira, fazer o vendedor subir e descer escadas com pilhas de roupa para terminar o atendimento com um: "obrigado, mas nada ficou bom". Oras, ainda que fosse uma peça de ouro, conceituada por todos os estilistas como uma obra de arte e, ainda, estivesse a custo quase zero, não era a peça o problema, mas quem a usa. Ou isso, ou o simples prazer em ter alguém servindo-o. Prefiro acreditar na primeira hipótese.

Por fim, e não menos importante, todos sabemos que qualquer loja possui horário de funcionamento, correto? Creio que não, pois existem aqueles que insistem em chegar minutos antes do fechamento e prolongar-se por tempos, muitas vezes, infindáveis. Entendo que imprevistos acontecem e que, em casos específicos, ocorra a necessidade de um atendimento em horário extra funcionamento de loja. Mas, alguém já se deu conta que o funcionário ali presente e simpático trabalhou todo o seu período e não está ganhando hora extra? Pensou que ele pode perder a condução e ter que ficar mais uma hora no ponto de ônibus esperando a próxima?

Enfim, apesar do desabafo de muitas bocas terem tomado corpo em forma de texto, continuarão atendendo com qualidade cada cliente que vier com intenção de compra, afinal são como um patrão rabugento, precisamos tratá-lo bem, pois é ele que paga nosso salário ainda que estejamos a beira de um ataque de nervos.

Alexandre Rodrigues

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Neandertal pós moderno


Vizinho mata outro a tiros por causa de vaga de garagem. Adolescente mata colega de escola a tiros por dividia de R$20. Menino de treze anos esfaqueia amigo de dez por derrota em jogo de videogame. Mulher é espancada pelo marido e decide não prestar queixa. Professor é agredido por aluno em sala de aula. Mães jogam filhos recém-nascidos em lata de lixo. O que está acontecendo?

Estamos na era da intolerância, parece deixarmos que o nosso lado irracional nos domine, ignorando o bom senso e o uso da fala que tanto nos esforçamos para fazer-se entender. Não, não podemos comparar o homem aos animais, estes últimos em seu habitat atacam apenas para comer e/ou defender seu território, lei natural da sobrevivência. Não existe violência gratuita como as tão frequentemente vistas nos noticiários diários.

Psicólogos e estudiosos defendem vertentes para esclarecer o que acontece, criam nomes e teorias para explicar comportamentos agressivos e justificam tudo como sociopatias e síndromes fajutas que não passam de tentativas de amenizar a angústia generalizada que assolou a sociedade.

O bulliyng, por exemplo, sempre existiu e se tratava de algo normal até a década de noventa. Brincadeiras agressivas de crianças que precisavam de um pouco mais de atenção para suprir a ausência dos pais em suas vidas. Mas quando isso passa de exceção a regra? E quando a estrutura social muda? Será que tudo acompanha? Pelo visto precisamos rever esse conceito, ao invés de tentar justificar os atos cometidos e que não tem como serem evitados.

Deram-nos o direito de exigir nossos direitos, de gritar pelo que acreditamos, mas nossas vozes parecem mudas. Há, ainda, o medo de represálias, de sermos calados de maneira definitiva. Voltamos à lei da selva, na qual vence o mais forte e, na selva de pedra, os mais fortes não necessariamente tem o porte atlético e precisam sujar as mãos. Usam roupas finas, frequentam lugares requintados e se preocupam com o corpo apenas por estética. Dificilmente sabemos quem são, possuem tantos sob seu controle que formam verdadeiros bandos com sub-hierarquias sob seu comando e quando são pegos não a justiça sobre eles, pois eles são a justiça.

Voltamos à era dos homens das cavernas, num processo de involução, retrocedemos no tempo e viramos primatas pós-modernos resolvendo tudo na pancada sem apelar para o diálogo. Não queremos saber quem estar com a razão, queremos tê-la a qualquer custo. Deixamos de dar valor a vida quando passamos a dar valor demais à riqueza. Aproveitamos a modernidade e trocamos os tacapes (pedaços de madeira usados para caçar) por armas e jogos de interesses.

Exterminamos os dinossauros e estamos fazendo o mesmo com nossa fauna e, como já não temos mais a quem dominar, por que não fazer isso com o nosso igual? Afinal somos seres superiores, Neandertals do século XXI com direito sobre o mundo que habitamos e sem leis para controlar-nos.

Alexandre Rodrigues

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Daybreak


Acabo de chegar do cinema, vício que faço questão de alimentar, e se me perguntarem se indicaria o filme que acabo de assistir, a resposta seria: sim!

Morning Glory, adaptado para o cinema brasileiro com o título Uma manhã gloriosa, não é uma superprodução, muito menos tem um enredo fascinante. Trata-se de uma comédia leve e simples, daquelas as quais não se percebe passar os 107 minutos de filmagem.

O filme conta a história de uma jovem produtora executiva, interpretada por Rachel McAdams, que depois de ser despedida do seu emprego tem como única oportunidade de sucesso um programa de TV matinal condenado ao fracasso.

Não, não esperem grandes efeitos cinematográficos, muito menos grandes discussões sobre o futuro da humanidade, o sucesso do filme fica por conta de uma história simples e atuações, digamos, surpreendentes de atores consagrados como Harrison Ford, que interpreta um âncora egoísta em fim de carreira que se acha bom demais para o programa que é o obrigado a apresentar, e a plástica Diane Keaton, que interpreta uma ex-rainha da beleza e personalidade de longa data do programa matutino e que está mais do que satisfeita apresentando as "notícias" das manhãs.

Se você é do tipo que gosta de grandes filmes, não perca seu tempo. Mas se for um bom apreciador de cinema, vale a pena assistir Uma manhã gloriosa e se divertir com essa revitalizante história que vai questionar até onde vão os seus sonhos e o quanto você está disposto de fazer acontecê-los.

Bom filme.

Alexandre Rodrigues

quinta-feira, 24 de março de 2011

Quanto tempo???

Quanto tempo temos disponível??? Tempo para uma sessão de cinema, para um jantar romântico, para um papo com um amigo??? Vivemos tão acostumados com a velocidade cada vez mais rápida da internet que estamos fazendo de bites, horas.

Estava pondo em prática um hábito, digamos vício meu (cinema), quando me deparei com a seguinte situação: fim de filme, as luzes nem acenderam ainda e dezenas de pessoas já encontram-se de pé dirigindo-se a saída.

Meu Deus, seria demais esperar que o cast de atores começasse a subir na tela para que devagar e preguiçosamente pudéssemos levantar e nos dirigir ao lanche/jantar discutindo o que acabamos de ver???

Não... seria realmente pedir demais!!! O filme já acabou, o que estamos fazendo aqui ainda sentados??? Alguém já se perguntou o porquê de as luzes demorarem de acender e fazerem isso de forma lenta e suave??? O proquê de pedirem no início da sessão que desliguemos os celulares???

A idéia de uma sala escura, climatizada e sem interferências externas é para que possamos nos delisgar do mundo e sucumbir a algumas horas de fantasia. Poder esquecer a realidade tão corrida e dura e relaxar com uma história de um gênero que nos agrade. Os letreiros finais não estão ali apenas para que saibamos quem fez o que no filme que acabamos de assistir, afinal se esse fosse o único propósito as letras deveriam vir em tamanhos maiores.

Mais do que simplesmente o elenco e equipe técnica, aqueles minutos finais são a volta a realidade feita de forma sútil, com uma boa música, com as luzes se acendendo de forma gradativa para não termos aquela sensação de irritação nos olhos. É o momento da espriguiçada preguiçosa, do "gostei" ou "não gostei", a hora de refletir sobre o que acabamos de ver.

Entretanto, temos muito mais o que fazer do que simplesmente esperar que o letreito suba com um milhão de nomes que nunca nem se quer ouvimos falar em toda nossa vida. A um mundo lá fora que não parou para esperar que saíssemos da sessão de cinema, que por sinal é um luxo quase desnecessário já que podemos comprar um dvd pirata de um lançamento em qualquer esquina e assistir no conforto da nossa casa, ou mesmo baixar no iphone.

O tempo que cada vez mais segue como um papa léguas, em velocidade inalcansável, têm nos trasnformados em lentos coiotes e nem temos nos dado conta disso. Afinal, se não temos tempo de ir ao cinema e se deliciar com toda sua magia, quem dirás pensar na velocidade que a vida tem passado.

Alexandre Rodrigues